O jantar de abertura do Festival Gastronômico Paraense, um dos pontos altos da 5ª Feira Internacional de Turismo da Amazônia (5ª FITA), que acontece entre os dias 12 e 15 deste mês, no Hangar – Centro de Convenções e Feiras da Amazônia, terá um ritual pouco conhecido pelo público paraense, quando 200 convidados do pólo Amazônia Atlântica irão experimentar uma bebida especial a base de cana e ervas e com supostos poderes curativos, produzida pelos remanescentes de quilombos do município de Moju (61 km de Belém), o Emu quilombola.
Para isso, 25 pessoas da comunidade de África e Laranjituba, duas das cinco comunidades quilombolas existentes naquele município, estarão apresentando aos visitantes as raízes de uma tradição que provavelmente deve ter se originado do XVII, quando da vinda de escravos e senhores feudais para a região. Vestidos com indumentárias que remetem aos cultos afro-descendentes e que a comunidade luta para preservar, deve despertar a atenção do público um senhor de 63 anos.
Com trajes que se diferenciam dos demais, seu Albertino é uma espécie de rei do quilombo, conhecido e respeitado por todos os moradores daquela região, que reúne cerca de 400 famílias. Pela tradição, ele é o exemplo de conduta moral que deve repassar principalmente aos jovens o significado de preservarem os costumes e tradições quilombolas.
Seu Albertino também exerce papel importante no ritual de consagração do Emu quilombola por ser a única pessoa autorizada a provar a bebida e liberá-la para consumo na comunidade, após um processo de apuração que dura em média 12 dias.
Durante o jantar do Festival Gastronômico, enquanto os outros representantes das comunidades quilombolas o auxiliam no ritual, ao som das danças afro-brasileiras que, segundo a tradição, são usadas para receber os visitantes e “abrir o universo para atrair as divindades”, seu Albertino tomará a primeira dose da bebida e apresentá-la, pela primeira vez, a um público fora do quilombo. “Sou o responsável por ingerir a bebida e, se não tiver no ponto, não libero para consumo. Isso nunca aconteceu, mas é a tradição”, contou ele.
Segundo Raimundo Magno Nascimento, morador da comunidade e representante da Associação Quilombola de África e Laranjituba, o ritual de preparo do Emu quilombola começa desde a coleta dos ingredientes que serão utilizados. “A base da bebida, que é cana, após ser coletada, é moída e passa 12 horas para atingir o ponto de fermentação necessária. Nos outros dias são colocados os outros ingredientes a base de ervas, cascas, folhas e sementes, até se chegar ao ponto ideal em que se finaliza o ritual”, explicou ele.
Herança - O Emu que será servido no jantar da Amazônia Atlântica, no dia 12, a partir das 20h, no Salão B, do Hangar, foi preparado por três senhoras da comunidade, conhecidas como Dona Francisca, Dona Catarina e Dona Lula, que herdaram a receita das primeiras escravas que fundaram o quilombo no município de Moju. “Naquela época a bebida era usada como um dos medicamentos para tratamento de diversas enfermidades e até hoje ainda se usa para tal finalidade. Um recente exemplo de cura ao ingerir a bebida foi do senhor da comunidade, chamado Manoel dos Santos, que estava enfermo e desenganado pelos médicos”, disse Magno Nascimento, como é conhecido pelos moradores.
Para ele, apresentar uma bebida tradicional num festival internacional como a 5ª FITA será uma forma de atrair a atenção do público, das autoridades e do mundo para a importância de se preservar uma cultura tradicional. “Não é só a bebida que queremos apresentar, mas queremos pedir apoio para atrair investimentos para o trabalho desenvolvido na nossa comunidade e tentar a mudar a nossa realidade”.
Serviço - O Festival Gastronômico Paraense abre no dia 12, das 20 às 22h, no Salão B, do Hangar, com um jantar ofertado pelos municípios do pólo Amazônia Atlântica. Além da bebida Emu, será servido no jantar o “Peixe na palha da macaxeira”, do município de Curuçá, e “Biscoitos da fécula da mandioca”, de Marapanim.
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