sexta-feira, 27 de março de 2015

Uma história que completa 388 anos de cores, cheiros e sabores

Madrugou. É hora de acordar, arrumar o café para os filhos e esposa e seguir para mais um dia de trabalho no Ver-o-Peso. Enquanto muitos ainda dormem, o dia de labuta já começou para Fernando Souza, de 49 anos. Peixeiro por vocação e amor, Fernando começou a trabalhar ainda bem novo nesta área, no tempo de “embrulhar o peixe na folha”, lembra sorridente o comerciante.

“Eu vinha pra cá trabalhar com um primo meu, que já trabalhava aqui vendendo peixe. Naquela época o peixe era enrolado na folha, então eu ajudava a enrolar e embalar, e, fui me aperfeiçoando”, comenta. “A nossa rotina começa muito cedo. 1h da manhã a gente tem que estar levantando, para estar aqui 1h30 no máximo e comprar nossa mercadoria, para então começar nossas atividades”, explica. “Recebemos aqui tanto turistas como moradores locais e donos de restaurantes”, completa.

Na próxima sexta-feira, 27, o local de trabalho de Fernando, o Complexo do Ver-o-Peso, completa 388 anos de construção. O espaço compreende uma área de 35 mil metros quadrados, ocupados por 1.588 permissionários, distribuídos na Feira do Ver-o-Peso; Mercado de Carne (Francisco Bolonha); Mercado de Peixe, Pedra do Peixe e Feira do Açaí.

Assim como Fernando, centenas de outros trabalhadores do Mercado do Ver-o-Peso chegam ainda pela madrugada no mercado, e, além do peixe, comerciali
zam frutas, verduras. legumes, carne, mariscos, aves vivas, farinha, comidas regionais, ervas e cheiros diversos, tucupi, maniva, açaí, artesanato e importados. Um universo de cores, sabores, cheiros e significados, que são oferecidos de segunda a segunda, em um dos principais bairros da capital.

Vendedor e artesão, Tomás Soares dos Santos, de 54 anos trabalha há cerca de três décadas no mercado. Ao lado dos filhos, ele retira das vendas do artesanato o sustento de toda família. “Passo mais tempo no Ver-o-Peso do que em casa. Minha renda familiar é resultado das vendas realizadas aqui na feira, as quais permitem que pague os fornecedores, a energia da barraca e as despesas de casa”, pontua o artesão. “O Ver-o-Peso, na verdade, é tudo para nós. A feira é nosso ganha pão, nosso lazer, nosso trabalho. Quem trabalha no Ver-o-Peso, deve e tem que cuidar bem dele para preservar este patrimônio que é nosso e será da próxima geração de cada um”, fala emocionado Tomás.

Na hora de atender um “gringo”, seu Tomás faz até mimica para não perder o cliente. “Quando chega um turista estrangeiro aqui, usamos de gestos e até mímica para tentar uma comunicação. Algumas palavras a gente até aprende com o tempo de trabalho. Eu já consigo, em inglês, dizer o preço de algumas mercadorias”, conta todo orgulhoso. “Fazemos também, antes da venda, o cálculo do dólar, pois temos que saber quanto ele está custando no dia para poder aceitar o dinheiro”, enfatiza o artesão, que conta ainda com máquinas de cartão de crédito para facilitar o pagamento.

Estima-se que cerca de 8 mil pessoas entre belemenses e turistas passem todos os dias no espaço. Este número chega a triplicar em épocas específicas, como em outubro, no Círio de Nossa Senhora de Nazaré, e, em dezembro, nas comemorações de final de ano.

Histórico
Criado com objetivos fiscais, a área foi inserida na economia formal logo após a fundação de Belém, em 1616, passando a ser conhecida como o “lugar de ver o peso”, devido à sua situação estratégica no porto. Segundo o Levantamento Preliminar do Inventário de Referências Culturais do Conjunto Ver-o-Peso (INRC Ver-o-Peso), divulgado pelo Iphan em 2010, no decorrer do século 18 a feira presenciou aos principais eventos e acompanhou as mudanças urbanísticas que Belém sofria.

No Ciclo da Borracha, entre o final do século XIX e começo do século XX, a cidade de Belém teve grande importância comercial, principalmente para o cenário internacional. Neste período, também há mudanças urbanísticas. Importantes edificações foram erguidas, entre as quais, o Palácio Lauro Sodré, o Teatro da Paz, o Palácio Antônio Lemos e o Mercado Ver-o-Peso.

A construção do Mercado de Ferro, como inicialmente era conhecido o Mercado Ver-o-Peso, foi autorizada pela lei municipal nº 173, de 30 de dezembro de 1897, e sua edificação, com o projeto de Henrique La Rocque, teve início no ano de 1899. Toda a estrutura de ferro do Mercado foi trazida da Europa seguindo a tendência francesa de art nouveau da belle époque.

Confira a programação desse fim de semana 

Programação de sexta-feira
6h30 – Alvorada com bandinha e fogos
8h00 – Celebração Culto Ecumênico
9h00 – Parabéns com a banda da Guarda Municipal e corte do bolo
9h30 às 14h00 – Ações de saúde com verificação de glicemia, pressão aretrial, teste de HIV, avaliação nutricional e atendimento médico.
9h30 às 14h - Retiradas de carteiras do idoso e meia passagem para ônibus, orientação de trânsito, agendamento para passe especial e orientações sobre estacionamento para idosos.

Jogos do Ver-o-peso sábado 
Os jogos em homenagem aos 388 anos do Ver-o-Peso vão reunir 120 feirantes/atletas disputando provas que mostram um pouco das atividades diárias no local que hoje abriga quase 1.600 feirantes. Serão seis equipes, batizadas de cupuaçu, açaí,pupunha, castanha do Pará e manga, com seis integrantes cada.

Além da prova do peixe, haverá ainda empilhamento e empacotamento de caixas de ovos, disputa para saber quem é o mais rápido em descascar abacaxi e castanha, o mais ágil em apanhar,debulhar e transportar o açaí da Ilha das Onças até a feira e, a prova mais esperada, quem consegue tomar um litro de açaí do “grosso”, acompanhado de camarão salgado, em menos tempo.

Os participantes devem se credenciar entre 6h e 7h30, quando as equipes serão formadas para a realização de provas inusitadas:

8h30 – Prova de descamar e limpar o peixe
9h30 – Descascar macaxeira
10h – Descascar castanha
10h30 – Escolha da Garota do Veropa e apresentação cultural
10h45 – Prova do açaí – Saída para a Ilha das Onças
12h – Beber açaí
12h30 – Premiação
14h às 17h – Atração musical: banda Mega Pop Show
16h - 1° Passeio Ciclístico no aniversário do Ver-o-Peso, com saída da avenida Visconde de Souza Franco seguindo pela Djalma Dutra, Pedro Álvares Cabral, Ver-o-Rio, Castilho França, Feira do Açaí, Dr. Assis, Portal da Amazônia, Tamoios, Padre Eutíquio e chegada no Ver-o-Peso.

Regata no domingo
No domingo as águas que banham o mercado vão receber uma etapa do Campeonato Paraense de Remo. A regata está prevista para começar 8h.


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